É preciso ensinar a criança a lidar com as emoções

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“Vossos filhos não são vossos filhos. 
São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma. 
Vêm através de vós, mas não de vós. 
E embora vivam convosco, não vos pertencem. 
Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos, 
porque eles têm seus próprios pensamentos. 
Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas; 
Pois suas almas moram na mansão do amanhã, 
que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho. 
Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procureis fazê-los como vós, 
porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados. 
Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas.”

 (Khalil Gibran)

      Quando decidimos ser pais, uma das frases mais ouvidas é: você tem que criar seu filho para o mundo. E é difícil para os pais (que aninham os filhos por anos, cuidam, zelam, preparam…) compreenderem que esses filhos, de fato, não lhes pertencem. O vinculo entre pais e filhos pode ser muito forte, dependendo do tipo de relação que eles estabelecem entre si. Muitos pais querem proteger seus filhos de passarem por dor e sofrimento, mas a verdade é que, por mais que os pais tenham a ânsia de proteger incondicionalmente os filhos, o crescimento se dá de dentro para fora, daquilo que experienciamos e principalmente daquilo que sentimos verdadeiramente.

         Daí a importância de auxiliarmos nossas crianças a conhecerem as suas emoções, a compreenderem seus sentimentos, a conhecerem suas potencialidades e fragilidades. A maioria das crianças não é educada para compreender suas próprias emoções, quando bebês nossa comunicação se dá através do choro: se estamos com fome, choramos; se sentimos frio, choramos; se estamos com dor, choramos; e nossos pais estão prontos a compreender e interpretar os motivos que nos levam a chorar para prontamente intervir e diminuir nossos sofrimentos e os deles próprios.

      Conforme vamos crescendo, somos expostos a diferentes tipos de emoções como, por exemplo, a frustração e a raiva; a criança não conhece aquilo que está sentindo e muitas vezes reage fazendo birra, se jogando ao chão ou chorando compulsivamente. Nesse momento, nós adultos (que também temos nossas dificuldades em lidar com nossas emoções, visto que também não fomos ensinados a isso) temos a tendência a impedir essa manifestação, seja tirando o foco da criança daquilo que ela está sentindo, seja nos afastando do “ataque” e deixando a criança sozinha. Vivemos uma época em que as facilidades digitais e tecnológicas têm “auxiliado” muitos pais nesse processo, a criança chora e logo é entretida por um joguinho no “tablet”, nossas crianças são doutrinadas para magicamente deixar de sentir, ou ignorar seus sentimentos.

 

    Com isso crescemos desconhecedores das nossas próprias emoções e sentimentos, e vamos dia a dia aprendendo a não sentir, ou a “maquiar” aquilo que sentimos com as mais diversas técnicas.

    Obviamente, nós não fazemos escola para os papéis mais importantes que exercemos em nossas vidas e assim como em todos eles, aprendemos com os erros e acertos, portanto, não se culpem pais e mães, porque vocês fizeram aquilo que era possível com o que vocês tinham de conhecimento e experiência de vida no momento.

   Existe a possibilidade de ensinarmos nossos filhos, desde muito pequenos, a lidarem com seus próprios sentimentos e emoções, e a melhor maneira de fazê-lo é através da valorização da manifestação da criança. É necessário que os adultos que convivem diretamente estejam atentos às manifestações de emoções para auxiliar nesse processo de reconhecimento e criação de recursos internos.

      No momento do “ataque” não é possível estabelecer uma conversa e, portanto, é preciso esperar passar. Esse tempo de espera pode parecer infinito e existem algumas frases que podem facilitar o processo sem desvalorizar a queixa da criança, por exemplo: Eu sei que você está brava por “tal” motivo, quando você se acalmar a gente pode conversar melhor sobre o que você está sentindo e juntos podemos chegar a uma solução.

     Depois de passada a fase da manifestação é possível então estabelecer uma conversa, que deve respeitar a idade e o grau de entendimento da criança. O adulto pode relembrar e narrar a situação, explicar os motivos do “não” ou o que levou a criança a ter aquela manifestação. Aqui cabe aos adultos facilitarem a criança a explicitar o que ela está sentindo, para a partir de então nomear os sentimentos em conjunto: raiva, tristeza, angustia, medo, solidão, euforia…

 

      Em seguida é o momento de criarem juntos recursos para lidar com determinado tipo de emoção e sentimento. Os pais podem facilitar esse processo citando exemplos deles próprios (de quando eram crianças ou não) e situações que os fizeram sentir o mesmo sentimento e podem inclusive falar para a criança quais são os recursos que eles criaram para lidar com aquele tipo de sentimento. Cabe aqui uma pergunta que estimule a criança a tentar resolver seus próprios problemas: como você acha que pode resolver essa situação? O que você pode fazer para resolver essa situação? Se você tivesse que resolver sozinho essa situação, como você faria?

      Esse tipo de abordagem auxilia a compreensão das diferentes situações e fortalece a capacidade da criança de criar diferentes tipos de recursos conscientes pra lidar com as adversidades. Em uma próxima manifestação, será possível relembrar as conversas anteriores e utilizar os recursos que vocês criaram juntos para que as coisas se resolvam da melhor maneira possível.

  A grande dificuldade do ser humano está no autoconhecimento, quando nos conhecemos verdadeiramente sabemos quem somos e o que queremos, quanto mais cedo esse processo começa, mais fácil se torna compreendermos nosso propósito de vida e mais acertadas serão nossas decisões. Retomo o poema de Khalil Gibran: “Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas.” Que possamos cuidar de nossas crianças para que as flechas sejam cada dia mais certeiras, em prol de um mundo melhor e mais justo.

 

Jaqueline Gabriel Polezei

Terapeuta de Família e Casal

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